Dia para lembrar as vítimas de acidentes no trabalho
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No Brasil, acontece um acidente de trabalho a cada 48 segundos, com uma vítima fatal a cada três horas. De janeiro de 2018 a 29 de março de 2019, foram registrados mais de 802 mil acidentes de trabalho resultando em 2.295 mortes, segundo dados do Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
No Rio Grande do Sul, em 2018, foram registrados 436 óbitos relacionados ao trabalho. Os números poderiam ser mais elevados não fosse o problema da subnotificação, que é grande, informa Fábio Kalil, da Divisão de Vigilância em Saúde do Trabalhador (DVST), da Secretaria Estadual da Saúde (SES/RS). Kalil alerta que a morte no trânsito dificilmente é reconhecida como relacionada ao trabalho, o que resulta em problemas nas notificações.
Em memória às vítimas de acidentes e doenças relacionados ao trabalho, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) instituiu 28 de abril como o Dia Mundial da Segurança e da Saúde do Trabalho. Em território nacional, este é o Dia Nacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho. Para marcar a data, serão iluminados na cor verde vários prédios e monumentos da capital gaúcha. Também ocorrerão atividades em diversas regiões do Estado.
No ano passado, foram notificados no Rio Grande do Sul 53.549 casos de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. Desse total, 49.845 (93,1%) são acidentes, sendo que 4.262 foram considerados graves (fatal, mutilante ou envolvendo crianças e adolescentes menores de 18 anos), informa a chefe da DVST, Loiva Shardosim.
Apesar de as doenças relacionadas ao trabalho corresponderem a menos de 7% dos agravos notificados, a OIT estima que, para cada acidente de trabalho, ocorram outras seis doenças relacionadas ao labor, o que demonstra a dificuldade do sistema de saúde em reconhecer a relação das doenças com o trabalho. Exemplos são as doenças osteomusculares (LER/DORT), os transtornos mentais, as pneumopatias, as perdas auditivas, o câncer relacionado ao trabalho, entre outras.
Ainda em 2018, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) e o Sistema de Informação em Saúde do Trabalhador (SIST) registraram que as atividades econômicas com maior incidência de acidentes e agravos em saúde foram indústria e transformação (15.942 casos), saúde humana e serviços sociais (6.636), agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal (5.651), seguido de atividades do comércio ligadas à reparação de veículos automotores e motocicletas (4.998).
Todo acidente de trabalho é significativo, diz Cláudia Veras, coordenadora-adjunta da DVST. Contudo, as amputações têm um potencial traumático maior. Estudos sobre o perfil das pessoas amputadas apontam para uma população majoritariamente masculina, com idade entre 20 e 50 anos, que se acidentaram no local de trabalho ou no trajeto.
Em 2017, o Estado contabilizou 366 casos de amputação via sistema da previdência social, que considera apenas trabalhadores com vínculo formal. Mesmo sem considerar o setor informal, naquele ano houve uma amputação ligada ao trabalho a cada 24 horas.
Óbitos
Ano passado, a Superintendência Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul apresentou dados relativos a 2016 apontando que 55% dos óbitos são de trabalhadores não formais. Os setores com maiores incidências de vítimas fatais foram, nesta ordem, o rural, o da construção civil e o de transportes, além dos não especificados, o que evidencia o não preenchimento do campo “ocupação” na Notificação de Acidente.
As principais causas de mortes no trabalho foram: condução de veículos de transporte de carga, execução de serviços em telhado, corte de árvores, trabalhos em andaime e trabalhos em postes.
Entre as causas de acidentes e adoecimentos dos trabalhadores está a sobrecarga de trabalho. Também são considerados fatores incidentes os baixos salários, ritmos de produção intensificados, longas jornadas de trabalho, número reduzido de pessoal para cumprimento de metas e cobranças para seu alcance.
Estudos em saúde do trabalhador indicam que os profissionais adoecem mais por questões associadas ao trabalho do que por fatores individuais. Para os estudiosos da área, a melhor forma de prevenir é observar o processo e as condições de trabalho a que o cidadão está submetido. E, além disso, reconhecer quando um ambiente de trabalho é adoecedor.
A notificação de agravos relacionados ao trabalho é compulsória desde o ano 2000, informa Loiva Shardosim. Ela destaca que as notificações geram um balanço de dados que permite a identificação e intervenção nos riscos por intermédio de um critério epidemiológico. “Analisar o perfil dos agravos relacionados ao trabalho representa um importante instrumento para conhecer e intervir no processo saúde-doença destes trabalhadores”, finaliza.
O dia 28 de abril foi escolhido para homenagear as vítimas das más condições de trabalho. Nesta data, em 1969, houve uma explosão na mina de Farmington, Virgínia (Estados Unidos), em que morreram 78 pessoas.
Texto: Marcia Camarano