Quilombolas de Santa Maria visitam Porto Alegre e conhecem o PIM
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Quarenta e dois integrantes da Comunidade Quilombola Arnesto Pena Carneiro, localizado no 8º Distrito de Santa Maria, estão visitando Porto Alegre. Na manhã desta sexta-feira, dia 23 de fevereiro, depois de ser recebido para um café da manhã no 1º Batalhão da Polícia Militar, o grupo esteve no Centro Administrativo Fernando Ferrari, onde assistiu a palestras sobre a Contribuição do Negro para o Estado, bem como a respeito do Programa Primeira Infância Melhor, da Secretaria Estadual da Saúde. O PIM tem ação específica junto aos Quilombolas, conhecida pela sigla PIMQUI.
Visitaram ainda a Secretaria da Justiça e Desenvolvimento Social, no 8º andar do CAFF, e a Secretaria da Agricultura e Abastecimento, no bairro Menino Deus. A tarde está reservada para passeios turísticos, que incluem a Praça da Matriz e seus prédios mais importantes, bem como a casa de Cultura Mario Quintana. Outros pontos do roteiro são os estádios Beira-Rio e Olímpico.
Na manhã deste sábado (24), os visitantes estarão no Quilombo do Alpes, no Bairro Glória, e no Quilombo Manoel Barbosa, de Gravataí, rumando depois para a praia de Atlântida, onde conhecerão o mar.
A iniciativa de trazer aquela Comunidade Quilombola é uma promoção da Universidade Federal de Santa Maria, com o apoio da Secretaria de Justiça e Desenvolvimento Social e Secretaria Estadual da Saúde, que esteve representada pela consultora da Unesco Maria da Graça Paiva. Entre outras atribuições, Maria da Graça integra o grupo de Estudos do PIM para a Comunidade Quilombola. Também recepcionou o grupo a professora Maria Marques, da Secretaria de Justiça e Desenvolvimento Social.
Maria da Graça Paiva conta que os quilombos remontam à época da escravatura, sendo locais onde negros - e também brancos - fugitivos de seus senhores encontravam refúgio. O primeiro foi o Quilombo dos Palmares.
"Essas comunidades eram um exemplo da democracia", explica Maria da Graça. "Não havia propriedade privada, mas tudo era coletivo, desde as hortas até as decisões políticas e os direitos dos moradores. Hoje, seus descendentes ainda buscam garantir os territórios originalmente ocupados, havendo o reconhecimento crescente a seu direito à terra. No Estado, já temos 127 quilombos reconhecidos, mas a grande maioria ainda busca sua legalização."
O primeiro quilombo urbano a receber o título da terra no país é o dos Silvas, situado no Bairro Três Figueiras, em Porto Alegre, "depois de mais de 60 anos de luta", explica a consultora da Unesco na SES. Este é um dos três quilombos onde será implantado o PIMQUI na capital gaúcha.
Os outros dois são o Quilombo dos Alpes, na Glória, e o Quilombo Luiz Guaranha, na Cidade Baixa.
O primeiro PIMQUI no Estado foi implantado no Quilombo dos Dutras/Mouras, no município de Santana da Boa Vista, em 2006. Como o PIM em geral, o PIMQUI também é direcionado a crianças na idade de 0 a 6 anos, para as quais é buscada uma melhor qualidade de vida, com acesso à orientação das famílias na promoção do desenvolvimento integral, aos serviços da rede de saúde e ao saneamento, entre outros itens.
A diferença na metodologia é que, nos quilombos, os visitadores devem ser capacitados para a necessidade de adaptação de conteúdos às características dessas comunidades, em termos de atividade lúdicas, sendo trabalhado o resgate de brincadeiras de origem africana, bem como de cantigas e estórias infantis. Com essa visão diferenciada, conclui Maria da Graça, "conseguimos valorizar a auto-estima da comunidade e obter uma resposta bem mais eficiente às ações do Programa Primeira Infância Melhor".