Mudança no modelo de atendimento em Saúde Mental é debatida em São Lourenço do Sul
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No segundo dia da 10ªedição do Mental Tchê, nesta quinta-feira (24), em São Lourenço do Sul, usuários dos serviços, trabalhadores da rede, acadêmicos e gestores debateram juntos sobre os impactos do remodelamento do cuidado em Saúde Mental. O evento, que segue até esta sexta-feira, é referência no tema da reforma psiquiátrica brasileira, lei que determinou a substituição dos manicômios por serviços desinstitucionalizados, humanizados e em liberdade em atendimento às pessoas que possuem algum sofrimento psíquico.
Durante todo o dia, a ágora "Dez anos de Mental Tchê: Percursos de vida na Reforma Psiquiátrica" reuniu relatos de pessoas diretamente envolvidas nas mudanças do modelo, seja por utilizar ou trabalhar nos serviços e na gestão. A secretária de Estado da Saúde, Sandra Fagundes, destacou que o Rio Grande do Sul vive um momento importante em consequência do compromisso do Governo do Estado com uma política de Saúde Mental que prioriza a organização do atendimento em rede e em liberdade. "Enquanto política pública, mas especialmente como movimento social de Saúde Mental, que envolve usuários, familiares, trabalhadores, estudantes e comunidade, nós estamos abrindo a agenda do Estado", afirmou.
O psiquiatra Flávio Resmini, que atua na rede de São Lourenço do Sul, frisou a importância da formação profissional dos trabalhadores da Saúde ser realizada fora dos manicômios. ?As residências multiprofissionais e de psiquiatria estão se espalhando pelo Estado e se focando nas redes de atenção desinstitucionalizada que estão se fortalecendo?, lembrou.
Para a diretora do Departamentode Ações em Saúde da SES, Károl Cabral, a Saúde Mental é transversal, porque sempre está atravessando qualquer ato de cuidado. Ela alerta: ?O cuidado pode ser perigoso, se exercido com autoritarismo, em desrespeito à autonomia das pessoas. Cuidar em liberdade é respeitar a existência e autonomia do outro?.
Depoimento de usuários: mudança de vida
Os depoimentos de usuários de diversos serviços, como CAPS, redução de danos e oficinas terapêuticas, demonstram que a reforma psiquiatra já impacta positivamente na vida de quem precisa acessar cuidado e tratamento em Saúde Mental.
Heloísa Baracy, de Porto Alegre, contou que a partir da alta do Hospital Psiquiátrico São Pedro e o acompanhamento por outros serviços desde então, já conquistou um emprego e a possibilidade de morar na sua própria casa novamente. ?Espero que pessoas com problemas parecidos com os meus também possam morar nas suas casas", disse.
Após não se adaptar à internação hospitalar e à experiência em comunidade terapêutica para tratar de sua dependência, Maicon Alcântara, de Pelotas, encontrou no método da redução de danos um aliado para se reorganizar.
"Temos que ajudar uns aos outros de coração, com conversa e presença, não só com química. Na redução de danos, estou desenvolvendo a minha vida", destacou.
Acompanhado por um CAPS em São Lourenço do Sul, Laércio Nebel relatou que hoje faz cursos ? de inglês e técnico horticultor ? e pensa até em faculdade, o que antes parecia impossível: ?Estou bastante feliz de estar me reintegrando à sociedade novamente e de forma equilibrada?.
O aumento da rede no RS
Para ampliar a oferta de serviços onde são acompanhados a Heloísa, o Maicon, o Laércio e milhares de outros gaúchos, o Governo do Estado criou o projeto estratégico O cuidado que eu preciso. Com ele, os municípios passaram a contar com mais recursos de custeio dos CAPS, o que elevou o número de centros em funcionamento de 139 (em 2010) para 178, hoje, sendo dez deles com funcionamento 24 horas, todos com cofinanciamento estadual.
As vagas em comunidades terapêuticas passaram a ser monitoradas pelo Estado, e a SES aumentou o valor do incentivo para os leitos em hospitais gerais, estimulando a criação de novas vagas (de 1.046, no início de 2011, para 1.301, em 2014). Novos serviços também foram criados, como os Núcleos de Apoio à Atenção Básica em Saúde Mental (NAABS), pensados para municípios de pequeno porte, com menos de 16 mil habitantes, que antes não dispunham de atendimento nessa área. Hoje são 116 em todo o Estado.
Outra iniciativa inédita foi a implantação de 288 oficinas terapêuticas nesses municípios, que proporcionam práticas coletivas artísticas e capacitação técnica em artesanato, carpintaria, costura, cerâmica e fotografia, entre outros. A SES também criou incentivos para a criação de consultórios de rua e de equipes de redução de danos.
O 10º Mental Tchê é promovido pela Prefeitura de São Lourenço do Sul, através da Secretaria Municipal de Saúde, e conta com o apoio técnico e financeiro da SES.