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Plano Estadual é lançado na II Jornada de Cuidado Integral em Demências

Perspectivas da rede à pesquisa evidenciaram importância do tema na sociedade e na atenção primária à saúde

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Promovida pela Secretaria Estadual da Saúde (SES), ocorreu nesta sexta-feira (27/09) a II Jornada do Cuidado Integral em Demências, na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (Ufcspa). Com cinco painéis, o evento abordou perspectivas da rede, do usuário, do profissional, do cuidador e da pesquisa, e sediou o lançamento do Plano Estadual de Cuidado Integral em Demências elaborado pelo Comitê Gestor da pauta. 

Presente na abertura, a secretária estadual da Saúde adjunta, Ana Costa, relembrou a trajetória até a elaboração do plano, passando pela aprovação da lei estadual, convênio com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para diagnóstico precoce do Alzheimer e publicação da portaria da SES que instituiu o Comitê Gestor responsável pela construção do instrumento social. Ao saudar todos os entes envolvidos na produção do plano estadual, a secretária apresentou as principais metas e ações e oficializou o lançamento do Plano Estadual de Cuidado Integral em Demências no Rio Grande do Sul. “Este não é um plano de governo, é um compromisso de estado, é de todos nós. A partir da consolidação desta política pública poderemos pensar em como ajudar a toda a sociedade para agir diante de uma pessoa e de uma família que convive com quadros demenciais”, defendeu a secretária ao frisar que o Rio Grande do Sul é pioneiro na iniciativa de construir um plano estadual 

Também na abertura, a pró-reitora substituta de extensão, cultura e assuntos estudantis da Ufcspa, Daniela Tietzmann, reforçou que a universidade está aberta e em constante diálogo para espaços formativos. A representante do Conselho Estadual do Idoso, Ivanir Maria Argenta dos Santos, corroborou o apoio do conselho na execução do plano e citou que “o RS é o estado mais envelhecido do país, o que requer um cuidado muito mais apropriado”. 

O deputado estadual Issur Koch, autor da Lei Estadual 15.820/2022 que instituiu a Política Estadual de Enfrentamento à Doença de Alzheimer e outras Demências no Estado do Rio Grande do Sul, se emocionou ao ver o trabalho concretizado. “Isso só se torna um legado se o poder executivo acolher a ideia, e foi o que aconteceu. Minha mãe recentemente foi diagnosticada com Alzheimer e nunca imaginei que colocar uma lei em prática pudesse ter tanta diferença na minha vida”, confessou. O geriatra Leandro Minozzo, mentor do projeto de lei e que auxiliou na elaboração da portaria estadual, salientou a importância do apoio do governo do estado para a viabilização de um sonho. “Antes esta era uma causa invisível e com a lei se torna uma prioridade. Aproveito para agradecer aos servidores públicos que mantiveram o trabalho até aqui e desejo que o lançamento deste plano provoque outros estados a mudar a realidade do SUS no Brasil inteiro”. Representando a Secretaria Estadual do Desenvolvimento Social, Gustavo Segabinazzi Saldanha afirmou que participar do momento é uma realização e destacou a articulação do processo construído com múltiplas visões sobre o tema. “É um desafio que a gente assume junto, dando encaminhamento mais focalizado na assistência social para que possamos amenizar as dores das doenças”, declarou. 

Ao final da abertura foi realizada a entrega simbólica de unidades impressas do Plano Estadual, que está disponível para consulta pública no site: saude.rs.gov.br/cuidado-em-demencias 

 

Painel rede 

De acordo com dados demográficos, o número de idosos no país é crescente e no Rio Grande do Sul é ainda maior. Projeção do Ministério da Saúde estima que 70% das pessoas com demência no Brasil não estejam diagnosticadas, o que requer um atendimento em rede cada vez mais qualificado e que respeite as diversidades do envelhecimento nas regiões do país. A gerontóloga da Saúde da Pessoa Idosa da SES, Thaissa Bessa, apresentou o mapa estratégico da secretaria e evidenciou a construção coletiva que vem ocorrendo desde a gestão até os agentes comunitários de saúde que atuam em municípios pequenos e estrutura de saúde completa para tratar demências. Como experiência exitosa, representante da Secretaria Municipal de Santa Rosa, no noroeste gaúcho, apresentou o Ambulatório de Síndromes Geriátricas, iniciativa pioneira que reúne um grupo de situações de saúde na atenção primária e classifica melhor e de forma mais eficaz pacientes com possíveis quadros de demência. Criado em abril de 2023, o ambulatório já realizou 1300 atendimentos. 

Painel usuário 

Abordando a perspectiva dos direitos da pessoa com demência, a defensora pública estadual e dirigente Núcleo de Defesa da Saúde, Roberta Barbosa, entregou e apresentou a Cartilha dos Direitos das Pessoas com Demência, elaborada conjuntamente pela Defensoria Pública Estadual e Secretarias da Saúde e Desenvolvimento Social e resultado do trabalho realizado pelo Comitê Gestor. Membro do Ministério Público, o promotor Leonardo Menin falou sobre os dispositivos legais e sistemas normativos que se correlacionam para garantir o cuidado e proteção à pessoa com demência e aos familiares. 

Painel profissional 

Com foco no diagnóstico da atenção primária, a neurologista, professora na UFCSPA e representante da Associação Brasileira de Alzheimer (ABN), Liana Fernandez, apontou os principais pontos da Bateria Breve de Rastreio Cognitivo, do Ministério da Saúde, a investigação clínica a partir dos primeiros sintomas de perda de memória, comportamento repetitivo, perda de objetos, por exemplo, e o encaminhamento para exames laboratoriais e, se possível, de neuroimagem. Neurologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Raphael Castilhos, enfatizou estratégias de prevenção na atenção primária como fundamentais no cuidado. “Não se pode perder a oportunidade de fazer o diagnóstico”. O médico também citou o manejo não farmacológico e a importância de orientar o prognóstico e educar a família sobre a melhor conduta, a importância da rotina e sobre o que não fazer. A geriatra Raquel Thomaz delineou a relação entre a demência e os cuidados paliativos, uma vez que até o momento não existem intervenções médicas capazes de reverter o quadro. “É uma trajetória longa e os cuidados paliativos são uma abordagem conjunta para promover a qualidade vida do paciente e dos familiares”, afirmou. 

Painel cuidador 

A professora de psicologia na PUCRS, Irani Caberlon abordou como cuidadores também precisam de atenção e os desafios em lidar com sentimento de impotência ao longo da progressão da doença. “Cuidar de alguém é emocionalmente desgastante, por isso o estabelecimento de vínculo de confiança e grupos de apoio são uma possibilidade de compartilhar experiências, encontrando solidariedade e compreensão mútua”. Nedio Seminotti, psicólogo consultor em processos criativos coletivos no Tecnopuc CriaLab, trouxe a importância desses grupos de apoio no contexto da saúde pública “compartilham problemas e geram soluções”. A Presidente da Associação Brasileira de Alzheimer na regional RS (ABRAZ-RS), Silvana Lammers, contou um pouco de como funcionam os grupos e o impacto positivo que eles têm no cuidado integral. “São espaços para falar abertamente sobre essa ambivalência sentimental que os cuidadores sentem”, disse ela. 

Painel pesquisa 

Professor e pesquisador do Instituto de Ciências Básicas da UFRGS e responsável pelo projeto de diagnóstico precoce de Alzheimer, Eduardo Zimmer, revelou a inovação no campo da pesquisa científica internacional que já testou diagnóstico da doença pelo sangue e explicou que os valores de referência utilizados ainda não foram validados no Brasil, porém o Rio Grande do Sul será o primeiro a fazer o estudo epidemiológico no país. A Iniciativa Brasileira de Biomarcadores para Doenças Neurodegenerativas examinará amostras de 3 mil indivíduos de dez cidades gaúchas e só será possível graças ao convênio assinado entre a SES e a UFRGS que viabilizou a aquisição do Elisa Ultrassensível (Simoa® HD-X Analyzer da empresa Quanterix), “um equipamento que de detecta o indicador de Alzheimer com a mesma precisão que detectaria um cubo de açúcar dentro de uma piscina olímpica”, explica o professor. “A Secretaria da Saúde comprou nossa ideia de incluir a pesquisa no Plano Estadual e nosso objetivo é que esses biomarcadores façam parte de um painel de rastreio no SUS no futuro”, destacou Zimmer. Integrante do grupo de pesquisa, o neurologista no Hospital Moinhos de Vento e professor no Instituto de Ciências Básicas da UFRGS Wyllians Borelli encerrou o painel com a palestra “Quando meu esquecimento é normal?”, abordando as diversas possibilidades e intersecções que podem interferir na memória. O médico enfatizou a importância dos profissionais da saúde se atentarem para fatores de risco preveníveis da demência e sua aplicação nas políticas públicas. “Se eu tiver que escolher um fator de prevenção para indicar: exercício físico”, pontuou. 

A II Jornada de Cuidado Integral em Demências teve transmissão simultânea pelo YouTube da SES e pode ser assistida na íntegra aqui: https://www.youtube.com/watch?v=1nSMrLEEvxI

Por Mariana Ribeiro/SES
Secretaria da Saúde