Governo do Estado do Rio Grande do Sul
Secretaria da

Saúde

Início do conteúdo

Amamentação em todas as situações é tema de seminários na Semana Mundial do Aleitamento

Foram apresentadas múltiplas possibilidades de amamentar e perspectivas diversas de fornecer leite humano a recém-nascidos

Publicação:

Seminário aleitamento 2024

Realizados em conjunto, o 16º Seminário Estadual da Semana Mundial da Amamentação e o 11º Seminário Estadual da Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil ocorreram nesta quinta-feira (08/08), com extensa programação ao longo do diaDe forma online, o evento foi transmitido pelo canal do YouTube do Conselho Regional de Nutrição-2, parceiro da Secretaria Estadual da Saúde (SES) na realização, e trouxe como tema a amamentação em todas as situações. 

O evento também contou com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre. Presente na abertura, a secretária estadual da Saúde adjunta Ana Costa salientou que a amamentação é um assunto que salva vidas. “Recente tragédia no Rio Grande do Sul mostrou o quão importante é fortalecer nosso papel de apoio em situações adversas. É uma pauta que alegra e desafia, que evidencia relações de afeto e da qual devemos falar com naturalidade”, argumentou. 

A enfermeira Márcia Machado abriu o evento apresentando dados sobre pessoas com deficiência e a necessidade de apoio às famílias atípicas na continuidade da amamentação. “É fundamental humanizar mais a assistência, ofertar plano de parto, realização de visitas domiciliares e capacitar os profissionais nas unidades de saúde para que façam o uso de tecnologias assistivas, como providenciar materiais em braile, por exemplo”, pontuou. Ela também explicou que existem plataformas virtuais com intérpretes de Libras e possibilidades de facilitar a comunicação na hora do atendimento de diversas formas. “Já existem cursos de Libras para profissionais de saúde, e a demanda por pessoas preparadas para atender mães surdas vem crescendo”, exemplificou a enfermeira. 

Múltiplas possibilidades de amamentação 

Trazendo a amamentação sob a perspectiva da população LGBTQIA+, a pediatra Ana Carolina Salis defendeu a necessidade de letramento e conscientização dos profissionais ao abordarem a gestação e o processo de amamentação, dando espaço para que sejam manifestados os desejos, expectativas e dúvidas sem julgamentos. “Não se pode pressupor o gênero baseado na aparência. Os profissionais de saúde devem saber a diferença entre sexo biológico, identidade de gênero e orientação sexual e devem perguntar à pessoa gestante por qual o pronome ela deseja ser tratada, assim como devem compreender o papel parental, as parcerias e redes de apoio que estão envolvidas no processo de gestar e de alimentar. A médica também salientou que abordar a amamentação em famílias LGBTQIA+ inclui ofertar possibilidades de indução à lactação e co-lactação. “Homens transgênero amamentam, se assim desejarem. De igual forma, já existem relatos científicos de uma mulher transgênero que conseguiu amamentar seu bebê após induzir a lactação. Isso mostra as inúmeras formas possíveis de amamentação e como famílias diversas devem ser tratadas com respeito e competência”.  

Na mesma linha, o antropólogo Dan Kaio Lemos falou sobre os desafios da amamentação para pessoas transmasculinas e como esses corpos são vistos nos dispositivos de saúde. Essas identidades invisíveis favorecem o ‘assujeitamento’, pois são pessoas que vivem diversas vulnerabilidades e sobre as quais faltam dados nos sistemas de saúde. É uma população invisível da política pública”. Lemos também argumentou que a cultura ocidental considera a amamentação única e exclusiva de mulheres cis, o que é excludente. “Corpos com glândulas mamárias podem amamentar e o planejamento durante a gestação é importante justamente para saber quais os desejos de amamentar e induzir a lactação com os cuidados e acessos devidos. O sistema de saúde ainda não está preparado, mas está avançando”, concluiu. 

Aleitamento materno no sistema prisional 

Psicóloga e consultora no programa Primeira Infância Melhor (PIM), Alneura Provenzi apresentou dados do sistema prisional gaúcho, que mostra que 80% das mulheres privadas de liberdade são mães. Atualmente, 29 gestantes e uma puérpera são acompanhadas com atenção prioritária, uma vez que o perfil dessas mulheres é ainda mais vulnerável no cárcere. A amamentação está entre os direitos do recém-nascido e é dever do estado fortalecer o vínculo mãe-bebê, incentivando o aleitamento materno.  

A atuação do PIM na Unidade Materno Infantil da Penitenciária Feminina Madre Pelletier é voltada para a sensibilização, formação de gestores, promoção de atividades lúdicas e educativas para as presas.São mulheres que têm a trajetória permeada por violências, abusos e negligências”, disse ao explicar que isso se reflete nas relações com o bebê. As presas são orientadas por equipe multidisciplinar nas unidades de saúde de referência e devem receber orientações sobre cuidados de saúde, aleitamento materno e amamentação assistida desde as consultas de pré-natal. “Muitas delas não conseguem amamentar exclusivamente até os seis meses, por fatores emocionais e interações com dependência química. Nosso papel é superar e amenizar os danos causados pelos processos de vulnerabilidades e apoiar a inserção da criança na família extensa após esse período”, explicou Alneura. 

Ainda no recorte da população privada de liberdade, a defensora pública Mariana Py Muniz corroborou a estatística de aumento do encarceramento feminino e sobre a necessidade de assegurar direitos no sistema de punição estatal. Mariana apresentou o projeto pioneiro da Defensoria Pública do Paraná que propõe a Economia do Cuidado para remição da pena, compreendendo o papel de gênero exercido pelas mulheres também dentro do sistema prisional. A amamentação é um direito, mas é também um trabalho invisível, de suma importância, que requer demais das mães. Devemos refletir, compreender e intervir na busca por uma sociedade mais justa”, pontuou a defensora pública. 

Tecnologias leves 

A pediatra e neonatologista Sônia Salviano abordou o manejo da amamentação com tecnologias leves e reforçou a urgência da educação em saúde e das trocas entre profissionais sobre o tema. “Cada caso é um caso, independentemente do número de filhos que aquela mulher já teve. Deve ser respeitada a hora de ouro e o contato pele a pele e devemos lembrar sempre que a protagonista é a mãe”, justificou ao lembrar que atualmente anúncios de marketing desencorajam a amamentação. 

Durante a tarde, a nutricionista Raquel Bicudo apresentou as alergias alimentares e os desafios para o uso de fórmulas infantis. “A possibilidade de alergia alimentar não é impeditiva para que a criança siga mamando no peito. O diagnóstico correto deve ser investigado, mas é preciso ter em mente que o aleitamento materno e a alimentação saudável são a base do tratamento da alergia alimentar”. A nutricionista também explicou que quando necessário, as fórmulas infantis especiais devem ser introduzidas para suprir demandas nutricionais.  

O médico Hélio Miguel Lopes Simão, do Departamento de Assistência Farmacêutica da SES, descreveu como funciona o fluxo de dispensação de fórmulas pelo estado e destacou que o Rio Grande do Sul é um dos nove estados com programas administrativos estaduais que fazem essa entrega gratuitamente. A solicitação pode ser realizada via farmácia digital, no site da Secretaria Estadual da Saúde, mediante documentação exigida. O estado realiza doação de fórmulas especiais extensamente hidrolisadas, de aminoácidos livres e de soja. 

Amamentação em situação de calamidade 

Com a recente catástrofe climática que assolou o estado, o relato de caso de Colinas, apresentado pela equipe da Secretaria de Saúde do município trouxe esperança e bons indicadores. A cidade de 2.400 habitantes, com apenas uma Unidade Básica de Saúde, teve 380 famílias atingidas pelas enchentes de maio, muitas delas com bebês e crianças pequenas. O programa Colinas: mil dias para mudar uma vida inteira se tornou uma política pública municipal, que atua em conjunto com a Estratégia de Saúde da Família, com apoio intersetorial e foi essencial no empoderamento da amamentação durante os dias mais críticos. Em vídeo, mães que foram resgatadas das cheias relataram como o vínculo com o bebê e amamentar durante a calamidade foram essenciais para que mantivessem a calma e pudessem igualmente acalmar os recém-nascidos.  

Cibele Rezende Borba, médica que atuou na Força Nacional do SUS em Canoas,  também contou da experiência de lidar com gestantes e puérperas nos abrigos temporários. “Elas tinham medo, insegurança alimentar e não queriam incomodar, muitas vezes escondendo a gravidez das outras pessoas”. Cibele, junto com outros colegas, fez uma busca ativa e estabeleceu prioridades de triagem e orientação no momento de crise, incentivando a reconexão com a gestação e o acolhimento. 

Nutricionista da Secretaria Municipal de Porto Alegre, Annelise Krause também esteve nos abrigos auxiliando na intermediação de doação de fórmulas e suplementos nutricionais, assim como no envio de materiais sobre amamentação como prioridade nas recomendações aos profissionais de saúde trabalhando em abrigos temporários. Também nutricionista, Kátia Rospide atua na Política de Saúde da Criança da SES e articulou condições melhores de alimentação infantil e amamentação, monitorando os dados e viabilizando o primeiro repasse de leite humano entre estados. A iniciativa permitiu que o Rio Grande do Sul recebesse uma doação de leite humano pasteurizado congelado, em sistema similar ao transporte de vacinas, para que pudessem suprir a demanda dos bancos de leite da Santa Casa de Porto Alegre, do Hospital de Clínicas, do Hospital Fêmina e do Hospital Materno Infantil Presidente Vargas.  

Kátia também esteve envolvida nas orientações para cuidado em saúde de crianças abrigadas em situações de desastres e na elaboração de nota técnica conjunta com orientações para promoção, proteção e apoio à amamentação em estado de calamidade pública. 

Acesse os vídeos aqui:

Manhã: https://www.youtube.com/live/K5kyhJYXyKg?si=ErNwMM5lz-ZDBPNd

Tarde: https://www.youtube.com/live/46F1-2jsfQ4?si=M4gAi56vjASdLk70

Por Mariana Ribeiro/SES
Secretaria da Saúde